Tua estampa farrapa
Retrata os moldes de uma história
Nada escapa a tua vasta experiência
Nesta longa jornada de existência.
Chapéu de pança de burro
Teu limite entre o céu
E uma ponta de lança junto ao peito
Trazida como lembrança.
São resquícios de uma infância
Daquelas mal domadas
Que tu, homem rude desigual
Vem a anos domando um e outro bagual.
Um lenço a meia estirpe
É o que traz ao pescoço
Um osso de canela auxilia no nó
Que volta-o a profissão de ginete.
Encarnado como o sangue de suas veias
O lenço do xirú que a anos atrás
Viu entre os demais
De sua raça sulina.
Mais de uma judiaria
Entre seus irmãos, cuja única diferença
Era a cor do lenço que traziam
Se faziam animais entre homens.
O pala guarda entre o corpo
As recordações de um passado
Entrelaçado por lembranças e vivencias
E as tantas tendências hoje já esquecidas.
São experiências vividas
Por um homem do pampa
Que retrata sua estampa em versos
Guardadas, por um pala cor da noite.
O cinto que segura a bombacha
Já serviu de aconchego
E fez chamego a sua pistola
Que hoje demora a saltar da bainha.
Retratos de uma vida bruta
As mãos calejadas da terra ardida
Já não remetem feridas junto ao lanço
Trançado a capricho quando piá.
O companheiro desde a infância
Vai junto em toda carreteada
Por vezes fica solito
Só a escutar um grito de “Era Boi”
Um violão bem afinado
Um pinho de incontáveis histórias
Um alambrado de cordas
Um corpo esguio acariciado.
Cada favo da bombacha
Retrata uma anedota bem feita
Perfeitas não seriam elas
Sem a companhia da prateada.
Faca de muito carinho, delgada
No conforto de sua bainha
Sente-se uma rainha ao desfilar no povaréu
E ele, o réu, condenado a carrega-la por toda uma vida.
Se vem com os dedos dos pés aparecendo
Não é por relaxamento ou desgosto
É o amor pela tradição da bota de seu pai
Feita de algum garrão, arrancado a campo fora.
Sua casa não tem tramelas
Nem suas janelas são grandiosas
É simples, mas incomparavelmente belas
Estejam onde for.
Onde for seus pensamentos
Onde for seus sentimentos
Onde forem seus relentos
Onde forem seus ideais.
Sua casa é sobre rodas de madeira
Que de alguma maneira ainda hoje
Carrega os sonhos de algum bagual
Como um abraço em afeto paternal.
Emolduram novamente seus sentimentos
Uma forma de semente querendo germinar
Antes mesmo de terminar sua existência
Vai ainda pousar, na querência, do coração.
Diôzer R. Dias.
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